domingo, 24 de março de 2013

A VIOLÊNCIA TRAVESTIDA DE PAIXÃO


É muito dolorido assistir diariamente o extermínio de mulheres por seus companheiros, inconformados com a vontade livre de um ser humano que decide viver e construir seu próprio destino.

Estamos assistindo quase que inertes a esse holocausto feminino no qual, muitas crianças ficam órfãs, sem entender o porquê de verem suas famílias destruídas por atos hediondos, praticados por àqueles que deveriam amá-las e protegê-las. Quando não raro, são também vítimas indefesas deste terror que não escolhe classe social para se manifestar.

A passionalidade, o sentimento de posse acomete normalmente quando a relação chega ao fim, a justificativa é sempre a mesma de séculos passados, “se não viver comigo, não vive com ninguém”.

Em tempos remotos constava no direito penal o crime de adultério, muito mais centrado no feminino, é claro, ao ponto de ser considerado crime em legitima defesa da honra, o paradigma era “honra se lava com sangue”. A mulher não tinha poder de decisão sobre o seu corpo e já chegou a ser considerada um ser desprovido de alma.

Como se uma pessoa fosse um patrimônio intransferível, com selo registrado para domínio de uma marca encravada na pele, para fins de identificação e conseqüentemente descartável, surgindo do inconsciente e aflorando na consciência a triste lembrança dos campos de concentração, que na atualidade, vem travestido de ambiente familiar.

Aí vem uma reflexão sobre o ser masculino que nasce de uma mulher e recebe a primeira alimentação no ambiente uterino, do seu seio leitoso e o conforto de seu colo macio e acolhedor. A pergunta é: como estamos educando os nossos meninos para permitir que se transformem em homens brutalizados pelas paixões destemperadas e criminosas?

Afinal somos nós mulheres que educamos os nossos rebentos. É fato que a natureza humana é uma incógnita, mas também é cônscio que se orientarmos os nossos filhos masculinos para respeitar os femininos, começando por considerar a autoridade da maternidade frente à criação e formatação de pessoas, já estaremos criando bases para o respeito mútuo. Como também evitar enaltecer o menino-homem como o macho da vez detentor dos "poderes de Hércules . Quem sabe agindo assim, enviaremos para sociedade cidadãos mais equilibrados emocionalmente e preparados para compreender a igualdade de direitos entre homens e mulheres, ancorados no espírito de paz, para respeitar o espaço que cada ser humano tem pelo simples e complexo fato de ter nascido?

Precisamos repensar no que estamos comunicando para as crianças de hoje, que princípios e valores estamos transmitindo, será que deixamos claro que ser homem é ser pacífico, sem com isso deixar de ser o que é, fortalecido pela autoestima?

Está mais do que na hora de acabar com essa educação equivocada e machista de que ser homem é estar acima de qualquer questão. Vamos amar e treinar a capacidade de amar dos nossos meninos para se tornarem grandes homens amando e respeitando o livre proceder de suas companheiras de jornada. “Ao lado de um grande homem sempre existe uma mulher que compartilha de suas escolhas com sabedoria e prosperidade”.

Avante mulheres guerreiras, provedoras da sociedade orgânica, o momento é agora para mudar este quadro de terror que se assemelha a santa inquisição, com os mesmos requintes de crueldade ainda cobertos pela cortina do machismo predominante!

Vamos a luta cortando o mal pela raiz, diminuindo os equívocos relacionais e aperfeiçoando o trabalho de burilar a personalidade com a maestria de um sábio, a disciplina de um atleta e o amor incondicional dos evoluídos na esfera dos sentimentos que tudo compreendem, mas não se deixam vencer pela ignorância.

Aniete Goes  

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