terça-feira, 30 de julho de 2013

UM HOMEM DE CODINOME “FIQUE FRIO”




Ele se foi e com ele um coração de menino que de tanta emoção ficou quente e explodiu na poeira fria da morte.
Uma pessoa de paz do tipo que não considerava ninguém como inimigo e era capaz de cumprimentar até os agressores. Portador de uma musicalidade envolvente transpirava tons e melodias que deixava a todos os que tiveram o privilégio de ouví-lo tocando e cantando, encantados, e com a alma romanticamente embevecida, inclusive eu que fui agraciada com o seu toque dançando a valsa dos meus quinze anos.

Suas atitudes, educadas e gentis, moldurava uma personalidade sensível e emocionalmente frágil, muito embora apresentasse calma e tranquilidade, o que gerou o apelido de “fique frio”, expressão corriqueira do seu vocabulário quando as turbulências da vida o atingiam e também às pessoas com quem convivia.

Ele me ensinou a cantar ouvindo o som da minha voz nas partituras das músicas, a dançar com o corpo inteiro e sentir a vibração de viver com mais desprendimento. Os momentos vivenciados em sua companhia foram ricos em alegria, comentários jocosos sem malícia, que divertiam quem estivesse do seu lado. Olhava tudo a sua volta de maneira peculiar e especialmente ingênua o que fez com que sofresse as amarguras do comportamento abusivo daqueles que vivem na ignorância do desrespeito a individualidade do outro.

Sonhou tanto que se perdeu na fantasia do seu mundo particular e cheio de recordações do passado sem retorno, no qual foi um jovem que viveu o que queria sem se comprometer com o desenvolvimento de sua jornada neste mundo de ilusões e transformações. Mas não seria ele se não fosse assim, com alma de artista mergulhador nas belezas e lamúrias da existência humana viveu tropeçando no seu próprio chão.

Deixou um legado de generosidade no trato com os outros, paciência e tolerância fizeram dele uma pessoa muito querida e até quando cometia deslizes, jugo de quem é humano, era impossível alimentar raiva porque a energia amorosa que emanava diluía os ressentimentos.

Que as lágrimas de saudade que hoje derramo se tornem fios de luz para clarear a sua caminhada na dimensão da eternidade, e que as minhas orações sejam sussurros de fé e paz na sua escuta espiritual.
Que Deus o abençoe e que o amor seja sempre o estandarte da sua alma adorada.

Te amo e amarei por toda a eternidade como irmão em Cristo.

Homenagem ao meu irmão Sizenando de Araújo Goes, conhecido como “Cecé”, que partiu deste mundo em 30/07/2010.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

EU, MEU ILUSTRE DESCONHECIDO! E O OUTRO, QUEM SERÁ?


Sou uma surpresa diária para mim mesma e não fico chocada com essa constatação, afinal adoro ser um elenco de novidades e mutação constante. Seria muito chato ser do mesmo jeito todos os dias, sendo assim, enquanto partes de mim se escondem ou se apresentam indefinidas, outras, se mantêm incólumes, os sustentáculos virtuosos, que são referências para a instalação do equilíbrio diário nesta vida em exercício.

Se nem eu consigo penetrar completamente no mais profundo do meu “eu” fico imaginando o “outro” no seu mundo tão peculiar. Cada dia é uma descoberta seguida de mudanças e transformações necessárias quando aceitamos a diversidade que nos é inerente como seres em transição. Senão, nos perdemos no labirinto da sombra que nos sobrepomos.

Creio que o melhor a fazer seja encarar as múltiplas faces da nossa personalidade mutante amando sem reservas a beleza do nosso “ser” na existência do eu “sou”, e disciplinar o “ego” nas máscaras de quem queremos ser ou achamos que somos. Tentar sem desistir para alinhar a nossa dualidade destinada, e desenvolver a sabedoria de lidar com a metamorfose da nossa condição humana de ser.

Esse aprendizado é muito peculiar de quem aceita o diferencial de cada um e faz treinamento contínuo para compreender-se e ao outro no seu espaço devido, já que o “si mesmo é tão misterioso e absolutamente único”, é crucial para as relações que todos estejam disponibilizados a aceitar esse fato incontestável do movimento interpessoal. Somos individualmente peças exclusivas da criação embora a nossa universalidade seja completa na interligação do todo.

Como nos arvorar a julgar procedimentos quando nem mesmo conseguimos enxergar com clareza e imparcialidade o nosso próprio comportamento?! Estando fora do eixo, sem a lucidez de um autoconceito positivo ancorado na consciência do poder pessoal, só vemos àquilo que nos é interessante, de acordo com nossas crenças quiçá engessadas e desfocadas do real viver. 

Existem momentos que ficamos perplexos com nossas atitudes e o que somos capazes de fazer sugestionados pelas instabilidades emocionais e contrariedades de toda ordem, muitas vezes provocadas pela insensatez e imprudência. O que acontece pela falta de foco e desvio de atenção referente a momentos de indisciplina muito próprio do ser humano neste mundo de ilusões.

Usar o discernimento, a educação emocional e a flexibilidade de estilo são estratégias vitais para transitar nos relacionamentos com harmonia, tolerância e respeito mútuo. Portanto é imprescindível aceitar, e compreender o outro na sua complexidade original e isto, passa a ser um resultado do trabalho de autodescoberta de cada um de nós.